perfumes árabes viralizam e caem no gosto das brasileiras

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Com aromas intensos, frascos extravagantes que parecem joias e preços bem abaixo dos rótulos de luxo, esses perfumes (a maioria vem dos Emirados Árabes Unidos) se tornaram uma febre no Brasil a partir do TikTok.

O assunto começou a circular em interações entre entusiastas da perfumaria de nicho, mas acabou viralizando. É um dos temas mais buscados na plataforma ultimamente e virou tendência fora da internet.

As influenciadoras digitais Anna Luiza Teixeira e Joana têm dezenas de frascos de perfumes árabes — Foto: Maria Isabel Oliveira
As influenciadoras digitais Anna Luiza Teixeira e Joana têm dezenas de frascos de perfumes árabes — Foto: Maria Isabel Oliveira

— Fui convidada para o lançamento de um perfume da Le Falconé, em Miami, e para um de outra marca, em Dubai, na mesma data e tive de escolher. Praticamente toda semana tenho eventos de perfumes árabes, que crescm muito no Brasil — diz Joana.

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No primeiro semestre de 2025, as vendas desse segmento cresceram 340% no Brasil, na comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto a categoria de fragrâncias como um todo avançou apenas 10%, apontam dados da consultoria Circana. Os perfumes árabes são 2% das vendas da categoria no país, mas crescem com a chegada de novas marcas: já são mais de 20 por aqui. Em 2022, havia só quatro.

— A América Latina é um dos mercados mais “fragranceiros” e uma aposta das marcas árabes, com destaque para o Brasil — diz Ana Seccato, diretora da Circana.

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Na Beleza na Web, e-commerce do Grupo Boticário, as vendas de perfumes árabes dispararam mais de 500% entre janeiro e junho ante o mesmo período de 2024. Desde a criação, em junho, de um espaço exclusivo para a categoria, esses produtos passaram a figurar entre os cinco mais vendidos do ano na plataforma. O mesmo movimento se dá na Época Cosméticos, onde essa divisão de produtos cresce a dois dígitos, impulsionada pela força do nicho.

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As influenciadoras digitais Anna Luiza e Joana não se cansam de experimentar fragrâncias do gênero — Foto: Maria Isabel Oliveira
As influenciadoras digitais Anna Luiza e Joana não se cansam de experimentar fragrâncias do gênero — Foto: Maria Isabel Oliveira

A especialista em perfumaria Renata Ashcar lembra que a relação dos povos árabes com os aromas é milenar. Os rótulos do Oriente ganham admiradores no Brasil em duas vertentes: a dos “árabes orientais”, que vêm de ingredientes nobres como oud (madeira conhecida como “o ouro líquido da perfumaria”), e a dos “árabes ocidentais”, chamados assim por serem inspirados na perfumaria de luxo europeia ou americana, mas com preços menores.

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Um exemplo é o Royal Amber Orientica, que ficou conhecido após aparecer na mala de uma participante do Big Brother Brasil (BBB), da TV Globo. Um frasco do perfume, com notas doces e amadeiradas, custa cerca de R$ 700.

A popularidade dos árabes não se explica apenas pelos “dupes”, como são chamadas as fragrâncias inspiradas em perfumes famosos. O consumidor brasileiro mudou, passou a buscar notas mais marcantes.

Ao contrário da perfumaria tradicional, os árabes se destacam pela maior concentração e composições opulentas, com ingredientes como âmbar, incenso, mirra, sândalo e especiarias, que garantem fixação prolongada.

Para a médica e influenciadora Anna Luiza Teixeira Santos, que tem entre 60 e 80 frascos árabes em sua coleção de mais de 500 rótulos, a febre no TikTok reflete o interesse por mais identidade nas fragrâncias após a Covid:

‘Estão abrindo muitas lojas’

Ivana Menezes, diretora comercial e de marketing da BR Brand Imports, diz que sua empresa trabalha com perfumes árabes no Brasil desde junho de 2024 e atualmente vende três marcas, duas importadas de Dubai e uma da Polônia. Ela conta que o público já reconhece e valoriza notas intensas como oud, âmbar e incenso. Além disso, a tendência, diz, é que esse interesse aumente ainda mais:

— Até então o consumo é principalmente da Geração Z e dos Millennials, que estão imersos em redes sociais como TikTok e Instagram, mas acredito que esse interesse comece a se expandir, alcançando tanto gerações mais novas quanto as mais velhas, até porque esses produtos já estão disponíveis em lojas de departamento.

A procura por perfumes árabes triplicou na loja Shaydar, no Shopping All Brás Box, em São Paulo. A dona, Silvana Haydar, diz que, embora as fragrâncias sejam fortes e possam causar estranheza no primeiro contato, os consumidores se rendem à fixação. Com maior procura, ela tem notado que outros lojistas passaram a vender.

— Consideramos abrir outra loja, mas estão abrindo muitas, e a concorrência está maior.

Apesar do entusiasmo, o analista Guilherme Machado, da Euromonitor International, diz que as marcas árabes ainda ocupam um nicho e estão distantes de figurar entre maiores do mercado nacional.

— Seguimos de olho nesse mercado, uma vez que ele começou a entrar em varejistas de loja física bem importantes e com grande capilaridade no Brasil. Devemos ver mais movimentações nos próximos anos.

Marcas nacionais entram no jogo

— Vimos um aumento muito relevante na intensidade da fragrância. Os grandes lançamentos foram parfum ou essências. Muitos lançamentos estão trazendo nas notas materiais e itens que são associados à perfumaria árabes, tanto as tradicionais árabes como as que não são, como CH, Rabanne e Lancôme — disse ela.

Em 2023, a Época Cosméticos não vendia produtos da categoria e agora já comercializa 15 marcas, com a meta de fechar o ano em 20. Não por acaso o Boticário, um dos maiores players do mercado nacional, também está de olho na tendência.

Paulo Roseiro, diretor executivo de Marketing do grupo, diz que a marca vem intensificando sua estratégia, agregando insumos árabes e lançando rótulos como The Blend e Zaad, que crescem 30% mesmo sem um trabalho de marketing intensivo. A Eudora, do mesmo grupo, lançou recentemente o Diva Suprema, com notas de açafrão, que se tornou o principal lançamento do ano no e-commerce.

— A gente tenta mesclar algo que o consumidor já reconhece com o DNA árabe, trazendo essa assinatura, mas muita potência. Inclusive, a nossa régua de testes para desenvolvimento de fragrâncias mudou em relação à potência do cheiro e ao tempo que ela dura na pele. A entrada dos árabes colocou uma nova régua — diz Roseiro.

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