A febre começou lentamente, nas prateleiras improvisadas de lojas multimarcas no meio de São Paulo. Hoje, perfumarias porquê Shaydar, Niche House e Arabia Night atraem filas e vídeos com milhares de visualizações no TikTok. Nas etiquetas, nomes porquê Lattafa, Al Haramain, Asad e Maison Alhambra. No bolso, frascos entre R$ 150 e R$ 600. E no ar, uma pergunta: por que os brasileiros estão obcecados pelos perfumes árabes?
A resposta passa pelo libido de exclusividade, pelo impacto visual das embalagens, pela fixação subida na pele e por uma mudança no comportamento de consumo. “Acredito que esse interesse é revérbero direto de um consumidor cada vez mais exigente e plural”, diz Renata Gomide, vice-presidente de marketing do Grupo Farmacêutico. “Essa maturidade naturalmente abre espaço para novas explorações sensoriais. A perfumaria arábico entrega exatamente aquilo que esse consumidor procura: fragrâncias que marcam presença e impacto cultural.”
O Brasil é o segundo maior consumidor de perfumes do mundo, ficando detrás somente dos Estados Unidos, segundo pesquisa mais recente publicada pela Euromonitor. Mas o sabor muda: cresce o apelo por perfumes intensos, considerados unissex, que não seguem a pirâmide olfativa ocidental e que misturam tradição oriental com técnicas contemporâneas.
O oud, a baunilha, o âmbar e especiarias porquê canela e cardamomo são recorrentes. Muitos têm mais concentração de óleo, o que garante longa duração. “A maioria dos perfumes árabes tem uma concentração maior de óleo na elaboração, o que ajuda na fixação”, explica Sultan Beyond, possuidor de uma loja familiar em Leme (SP), que vende os frascos em lives com a mãe. “E o custo-benefício é outro diferencial. Antes, um perfume bom custava quase milénio reais. Os árabes chegaram com preços entre R$ 180 e R$ 350.”
A procura pelo “cheiro que não sai nem lavando”, porquê define a influenciadora Mariam Osman, tem impulsionado o consumo e a viralização online. Mariam, que começou a se interessar por fragrâncias árabes ainda gaiato, mas se aprofundou no tema posteriormente visitar Dubai em 2024, diz que o mais interessante está na possibilidade de gerar combinações únicas. “Eu sempre misturo, principalmente os da Kayali e o Al Haramain. E cria uma fragrância que ninguém tem.” Para ela, os europeus funcionam melhor sozinhos. Os árabes permitem experimentação.
O apelo sensorial desses perfumes não está só no cheiro. A apresentação visual tem um peso importante: frascos ornamentados, caixas muito trabalhadas e detalhes que remetem diretamente ao universo oriental criam uma experiência que começa no olhar. São perfumes pensados para impressionar antes mesmo de serem borrifados. Aliás, eles costumam fugir da estrutura clássica da perfumaria ocidental, que em vez de evoluírem em camadas ao longo do dia, chegam intensos desde a primeira borrifada e seguem assim por horas. Muita gente também destaca que esses perfumes não têm gênero: são usados por qualquer pessoa que goste de fragrâncias mais densas, doces, amadeiradas ou defumadas. A preâmbulo para esse tipo de uso ajuda a aumentar o alcance e o libido.
Outro fator que sustenta esse fenômeno é a combinação entre tradição e inovação. Muitos perfumes árabes usam ingredientes históricos, porquê o oud, resina rara com cheiro amadeirado e defumado, tudo isso ao lado de técnicas e composições modernas. Isso permite que eles dialoguem com públicos diferentes, ao mesmo tempo em que preservam um imaginário poderoso, onusto de cultura e simbologia.
O Grupo Farmacêutico vem apostando nesse movimento muito antes de ele se solidar. “Desde os anos 1990, com Tuareg e Tanit, já víamos sinais de que essa estética olfativa tinha potencial de conexão com o brasílico”, afirma Renata Gomide. Mais recentemente, a marca lançou fragrâncias porquê The Blend e Diva Suprema, esta última se tornou líder de vendas online na Eudora. Apesar da inspiração arábico, a produção é feita toda no Brasil, com perfumistas especializados e tecnologias porquê o Nariz Do dedo, que mede performance e espaço das fragrâncias.
O fenômeno também movimenta o varejo informal e o negócio independente. Lojas na 25 de Março, no Brás e no Bom Retiro montaram verdadeiros “oásis” de perfumes árabes, vendendo por WhatsApp e TikTok. A Niche House, por exemplo, viralizou ao vulgarizar perfumes porquê Shahd e Yara Rose. No All Brás, a Shaydar trabalha com reposições semanais e vídeos com mais de 25 milénio visualizações.
Mas nem tudo são flores. Com o desenvolvimento do mercado, aumentam também as falsificações. Campanhas no TikTok alertam sobre porquê reconhecer perfumes originais, e especialistas recomendam verificar registros da Anvisa, validade e informações do importador na embalagem. A filete de preços também varia: enquanto os mais populares ficam entre R$ 150 e R$ 600, versões premium podem chegar a R$ 3.000.
Mesmo assim, o movimento parece só crescer. “Nosso foco está em continuar apostando em inovação, leitura cultural e performance sensorial para contribuir para esse desenvolvimento de forma consistente”, afirma Renata. Sultan, por sua vez, já se prepara para furar uma loja em Dubai. Mariam segue misturando fragrâncias em moradia. E no TikTok, a pergunta que mais aparece nos comentários segue sendo a mesma: “Esse perfume gruda na roupa mesmo?” Gruda. E agora, também, no imaginário de uma novidade geração de consumidores.