Análise da XP: Como o protecionismo histórico do Brasil gerou baixa produtividade (25% da americana) e custos elevados (iPhone quase 2x mais caro), um espelho indesejado para políticas americanas.
O Brasil surge como um alerta, não um modelo, no debate global sobre protecionismo. É o que aponta Raphael Figueredo, Partner e Equity Strategist da XP Inc., em análise sobre artigo do Wall Street Journal. Enquanto os EUA debatem o avanço de medidas protecionistas, a experiência brasileira com o protecionismo sistêmico ilustra consequências como preços altos e perda de dinamismo econômico. A intenção de proteger a indústria pode sair caro.
Protecionismo e a queda da competitividade industrial
O protecionismo adotado por décadas no Brasil teve um custo alto e visível. A indústria nacional encolheu drasticamente. Sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) despencou de expressivos 36% nos anos 80 para apenas 14% atualmente, segundo dados levantados por Figueredo.
Ele destaca que a falta de competição externa, um efeito direto do protecionismo, minou a produtividade. A produtividade do trabalho no Brasil é hoje apenas um quarto (25%) da registrada nos Estados Unidos. Sem a pressão competitiva, a inovação e a eficiência tendem a estagnar sob o manto do protecionismo.
Custo Brasil: o preço real do protecionismo
O chamado “Custo Brasil” é significativamente agravado pelas barreiras do protecionismo. Figueredo, da XP Inc., aponta a burocracia excessiva e as complexas e infindáveis disputas fiscais como entraves claros. Além disso, as tarifas de importação brasileiras permanecem elevadas, com uma média de 11,2%.
Este cenário de protecionismo não só encarece bens de consumo para a população, mas também desestimula investimentos produtivos. Um exemplo técnico e direto citado na análise: um iPhone montado localmente no Brasil chega a custar quase o dobro do mesmo aparelho vendido nos EUA, refletindo o impacto direto do protecionismo e outras ineficiências associadas.
Isolamento econômico: o legado do protecionismo
Paradoxalmente, o vasto mercado interno brasileiro serviu como justificativa para o isolamento, em vez de ser uma plataforma para a eficiência global. O protecionismo consolidou-se como doutrina econômica ao longo de décadas, mesmo diante de crises externas que poderiam ter sido catalisadoras para reformas e abertura.
Figueredo ressalta a ironia em declarações recentes do presidente Lula criticando o protecionismo americano, lembrando que políticas de protecionismo semelhantes foram historicamente defendidas por seu governo e partido. A lição, segundo o estrategista da XP, é clara: o protecionismo, embora possa ter um apelo patriótico inicial, na prática resulta em ineficiência crônica, custos elevados e limitações ao crescimento econômico sustentado.