Ícone das estradas brasileiras some por décadas e ressurge como caminhão elétrico. Conheça a história e o futuro do lendário Fenemê.
Eles rodaram o Brasil. Enfrentaram lama e poeira. Eram os brutos mais temidos das estradas. Mas os caminhões FNM sumiram. Viraram lembrança e fotos antigas. Até agora. Um movimento inesperado trouxe a FNM de volta. Será que o lendário Fenemê vai rodar de novo? A resposta pode surpreender.
De motores de avião a rei das estradas: A origem inesperada da FNM
O caminhão Fenemê marcou época no Brasil. Mas sua origem é curiosa. A Fábrica Nacional de Motores (FNM) nasceu em 1942. Era o governo de Getúlio Vargas, buscando industrializar o país. O plano inicial não era fazer caminhões. A ideia era fabricar motores de avião americanos (Curtis-Wright). O objetivo era fortalecer a aviação militar durante a Segunda Guerra.
A guerra acabou antes da produção engrenar. O Brasil ficou com uma fábrica enorme em Xerém (RJ) sem destino. A FNM tentou fabricar peças, eletrodomésticos e bicicletas. Nada funcionou bem. A solução foi apostar nos caminhões. A primeira parceria foi com a italiana Isotta Fraschini. Lançaram o D-7300, primeiro caminhão “brasileiro”. Mas a Isotta faliu. Em 1951, a FNM firmou parceria com outra italiana, a Alfa Romeo. Passou a fabricar caminhões Alfa sob licença. Lançou o D-9500 (9,5 toneladas) e virou referência nacional. O apelido “Fenemê” surgiu da sigla F-N-M.
O bruto D-11.000: O Fenemê que ajudou a construir Brasília

A grande virada veio em 1958 com o D-11.000. Um verdadeiro tanque sobre rodas. Baseado em projeto Alfa Romeo, tinha motor diesel e capacidade para 11 toneladas. Seu design “cara chata” e barulho eram inconfundíveis. A lenda cresceu com sua participação na construção de Brasília. Milhares de Fenemês enfrentaram atoleiros para erguer a capital. Tornou-se símbolo de orgulho nacional.
A FNM tentou diversificar. Lançou o carro de luxo FNM JK 2000. Era caro e vendeu pouco. O foco voltou aos caminhões. O Fenemê reinava no interior, transportando de tudo. Era conhecido pela robustez e peças acessíveis. Para muitos motoristas, era sinônimo de independência.
Declínio e fim de uma era: A saída da FNM do mercado
O mercado mudou no fim dos anos 60. O governo militar decidiu privatizar a FNM. Em 1968, a Alfa Romeo assumiu o controle total. A concorrência aumentou. Mercedes-Benz, Scania e Ford abriram fábricas no Brasil. Na Itália, a Alfa Romeo enfrentava problemas financeiros. Em 1973, vendeu sua divisão de veículos comerciais para a Fiat.
A FNM passou a operar sob a Fiat, mantendo a marca por pouco tempo. Os modelos FNM 180 e 210 foram modernizados, mas a FNM perdia espaço. Em 1976, a Fiat assumiu 100% da Alfa Romeo. A decisão foi abandonar a marca FNM. Os últimos caminhões Fenemê saíram da fábrica entre 1977 e 1979. Nos anos 80, a marca sumiu. Em 1985, a Fiat fechou a fábrica de Xerém (já operando como Iveco). O Fenemê virou peça de colecionador.
A ressurreição elétrica: A nova FNM e seus caminhões do futuro
Décadas depois, em 2008, uma empresa carioca surpreendeu. Comprou os direitos da marca FNM e seu logotipo. A notícia animou colecionadores. O Fenemê voltaria, mas diferente. A nova FNM (Fábrica Nacional de Mobilidades) tinha um plano ousado: fabricar caminhões 100% elétricos. Zero emissões, foco no futuro sustentável.
A proposta chocou: o Fenemê barulhento agora seria silencioso. A nova FNM fechou parceria com a Agrale, tradicional fabricante gaúcha. Desenvolveu os modelos elétricos FNM 832 (13 ton) e FNM 833 (18 ton). O foco é o transporte urbano e regional para frotas que buscam reduzir emissões. Outra inovação é o “repowering”: converter caminhões diesel existentes em elétricos. Nos últimos anos, os novos FNM elétricos começaram a rodar (testes com Ambev) e a ser produzidos na fábrica da Agrale em Caxias do Sul (RS). Possuem 350 cv, torque instantâneo e autonomia de 100 a 150 km.
Desafios e oportunidades: O futuro do Fenemê elétrico no Brasil
A volta do Fenemê enfrenta desafios. Caminhões elétricos são muito mais caros que os a diesel. A infraestrutura de recarga no Brasil ainda é limitada. A FNM aposta em vendas diretas para grandes frotistas, oferecendo um pacote completo (caminhão, suporte, gestão).
O preço é o maior desafio. Com incentivos corretos, o Fenemê pode ter uma nova chance. Será que a marca ressurge de vez? Só o tempo dirá. Mas a história mostra que o Fenemê sempre encontra um jeito de voltar às estradas.