Para os humanos, a interferência de feromônios na atração sexual é uma incógnita; diversas empresas comercializam perfumes com esse suposto atrativo

Susana Nazar

19 de junho de 2022 09:00

O termo feromônio é derivado do grego e significa “transmitir excitação”. Pela definição mais atual, são substâncias liberadas por tecidos como as glândulas da pele ou secreções que podem servir como forma de comunicação e incentivar a atração sexual entre animais da mesma espécie.

A neurocientista e professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP,Eliane Comoli, explica que devido às suas características voláteis e serem produzidos em quantidades muito pequenas são muito difíceis de se trabalhar e, por isso, a maioria dos feromônios ainda são desconhecidos em muitas espécies ou não se sabe os detalhes.

“Estudos com mariposas, insetos sociais e camundongos contribuíram para as maiores descobertas na pesquisa dos feromônios, mas um membro do reino animal permanece um mistério tentador – o humamo”, declara Eliane. “Em outros mamíferos, os feromônios sexuais tornam o encontro mais provável, mas não sabemos muito sobre a atração sexual em humanos e nem como as pessoas se apaixonam”, acrescenta.

Segundo a especialista, até o momento as evidências sobre um possível feromônio sexual humano é muito fraca. Desde o início dos anos 2000, as pesquisas nessa área são focadas em duas moléculas – androstenediona e estratetraenol – aclamadas como “supostos feromônios humanos”.

Percebendo o odor

A percepção de diferentes odores influencia diretamente na noção de mundo, na personalidade e no humor. Estando atrelada também à memória, funciona como linguagem e está relacionada com a sobrevivência e interações sociais.

“Um cheiro agradável pode melhorar o humor, diminuir a ansiedade, promover sensação de bem-estar e até melhorar o alerta e atenção. Além disso, moléculas de odor provocam a liberação de endorfinas no cérebro e produzem sensações de prazer”, explica a professora.

O olfato também é usado para a detecção de feromônios pela maioria dos animais. “Em insetos, por exemplo, sensores olfatórios estão presentes nas antenas. Já em muitos mamíferos incluindo primatas não humanos os sensores estão associados ao sistema olfatório e a um sistema conhecido como vomeronasal – um órgão auxiliar do olfato”, aponta.

Dentro do rótulo

O cosmetologista esteta e consultor, Anderson Marçal Nascimento de Souza, conta que na perfumaria existe muita discussão sobre o assunto. “Essas matérias primas são utilizadas há muitos anos e geralmente são de origem animal, por exemplo os musks e o civete, que eram retirados de glândulas reprodutoras de dois animais, o veado almiscarado e o civeta”, descreve.

Devido questões ambientais e toxicológicas, estes componentes foram banidos da composição dos perfumes. “Atualmente são reconstituídos em laboratório e muito usados para fixadores da fragrância. Essas notas possuem moléculas muito pesadas e isso contribui para que a fórmula se mantenha por mais tempo na pele”.

A própria estrutura da fragrância pode lembrar cheiros que podem ser excitantes, segundo o especialista. São notas que geralmente sugerem um cheiro corporal, como por exemplo, pele aquecida, suor, saliva etc.

No geral, esses odores são bem suaves e passam despercebidos por grande parte das pessoas. “Já os ingredientes de origem animal possuem um odor bem pungente e, às vezes, até fétido que quando misturado com os demais ingredientes forma uma fragrância equilibrada”, declara.

Ainda conforme a neurocientista, não restam dúvidas de que a razão pelo grande interesse em feromônios sexuais humanos na mídia é devido à comercialização erótica, o que não é de surpreender, pois esse é o interesse básico humano.

“Pode ser que não exista feromônio sexual humano. Sabemos que existe um número pequeno de pessoas que são desprovidas do olfato em absoluto, não obstante eles encontram parceiros”, aponta Eliane. “Eu acho que seria fascinante se os feromônios humanos fossem encontrados, mas a vida já é interessante eles existindo ou não”, finaliza.

Foto de : Pixabay